O mercado imobiliário em Portugal, nesta primeira metade de 2015, traduz uma realidade única no panorama económico nacional.
Em todos os segmentos do Mercado imobiliário, quase sem exceção, assistem-se a records de vendas em volume e em valor de transações e em alguns casos, de subida de preços para níveis surpreendentes.
A título meramente indicativo, conta-se à boca pequena que foram transacionadas lojas por valor superior a 20.000€ por metro quadrado na zona do Chiado, constituindo um valor impensável há um ano atrás.
No eixo Av. da Liberdade - Chiado assiste-se à venda de prédios para reabilitação por valores superiores a 2.500€ por metro quadrado de construção e à venda de apartamentos a valores superiores a 7.000€ por metro quadrado.
Estes exemplos, embora restritos a áreas geográficas específicas, traduzem, contudo, uma recuperação do sector que é tanto mais significativa quanto sabemos do impacto da crise económico-financeira e das dívidas públicas, que assolaram as economias europeias desde o início da década e as suas repercussões em Portugal.
De notar que a crise imobiliária teve múltiplas origens sendo que, aliado à quebra do investimento público e à ausência de financiamento por parte das entidades bancárias, verificou-se a entrada de produto imobiliário sem qualquer controlo nem limite, injetado por um sector bancário em crise, provocando ainda mais dificuldades num sector de atividade, anteriormente responsável por mais de 5% do PIB nacional.
Por outro lado, as opções públicas também não foram totalmente favoráveis ao sector, pois, em alguns casos, “subscreveram” a visão imediatista de uma banca em agonia, permitindo a situação referida, agravando a desvalorização acentuada dos imóveis, afectando toda uma população cujas poupanças foram canalizadas para a habitação, fomentadas por décadas de apoios públicos e alocação de meios financeiros por parte do sector bancário, à aquisição de casa própria.
A adicionar, a crise do BES com o desfecho verificado em 2014, veio dar o “golpe de misericórdia” a toda uma geração de promotores imobiliários de dimensão relevante e que dominaram o sector durante os últimos 30 anos. Hoje são, sobretudo, os capitais estrangeiros ou a “pequena” poupança de investidores nacionais, vinda de outros sectores de atividade, que aproveitam esta deriva absolutamente determinante e necessária para a reabilitação urbana que se verifica em Lisboa e Porto.
O turismo de curta duração, os programas com vista a atracão do investimento direto estrangeiro através do vulgo “Golden Visa” e o regime fiscal para residentes não habituais, aliado à oportunidade de preço de alguns ativos e exotismo do destino turístico Portugal, são um dos motores do sector, nomeadamente no mercado imobiliário residencial.
O programa de “quantitative easing”, a redução das yields nos mercados obrigacionistas para valores historicamente baixos, a turbulência nos mercados de “commodities”, têm canalizado os investidores institucionais para os mercados de ações e de imobiliário de rendimento.
Este movimento tem sido de tal forma relevante em Portugal que o país tem sido um dos destinos de preferência de investidores institucionais internacionais e demais “yield searchers” sendo um dos mercados europeus com maior volume de investimento no primeiro semestre de 2015.
Considerando o já concretizado até junho com o “pipeline” previsto até ao final do ano, estima-se que 2015 seja o melhor ano de sempre no mercado de investimento.
Espera-se que esta procura venha absorver o produto imobiliário ainda na posse do sector bancário, contribuindo para a estabilização do mercado, fomentando o aparecimento de novos operadores, com capacidade e qualidade, permitindo a retirada da banca para atividades onde possa criar valor.