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Já ouviu falar de um país chamado Poyais?

Provavelmente não porque este país nunca existiu realmente, mas só no papel. Em 1820 Londres ultrapassou Amesterdão como principal centro financeiro europeu.

As guerras napoleónicas tinham terminado, as necessidades de financiamento do tesouro inglês reduziram-se e a correspondente taxa de juro ajustou para níveis de 3.3%. A economia estava pujante, com os investidores cheios de liquidez e há procura de alternativas de investimento que oferecessem maiores rentabilidades.

Os países da América latina tinham-se tornado independentes da coroa espanhola, precisavam de financiar o seu crescimento e utilizaram o centro financeiro londrino para colocar títulos oferecendo rentabilidades de cerca de 6%. Parecia um bom investimento, fundado na convicção de que o Reino Unido suportaria financeiramente as antigas colónias espanholas, na exacta medida em que tinha apoiado a sua independência.

O problema é que a América Latina ficava longe, a informação sobre estes países era escassa, nomeadamente sobre a sua capacidade de cobrar impostos para fazer face às suas obrigações futuras, e os investidores não procuraram, ou não conseguiram aprofundar, o seu conhecimento sobre esta realidade.

O escocês Gregor MacGregor aproveitou então para vender obrigações soberanas de um país fictício chamado Poyais. A euforia deste período terminou quando a Espanha ameaçou incumprir na sua dívida soberana, alguns países latino americanos emitentes incumpriram e ficou claro que o Reino Unido não os apoiaria financeiramente.

No final de 1825 mais de 10% dos bancos ingleses e galeses tinham fechado as suas portas, principalmente os de menor dimensão. A reacção do regulador foi promover a criação de bancos de maior dimensão e que culminou na realidade actual em que quatro bancos ingleses detêm cerca de 75% dos depósitos, e não num maior grau de exigência na disponibilização de informação sobre os activos financeiros e na necessidade de maior diligência por parte dos investidores em obterem a informação e aferirem os riscos dos activo onde estavam investir as suas poupanças.

Actualmente as entidades que intervêm no sector financeiro, desde os reguladores às instituições financeiras e aos emitentes, reconhecem a importância de disponibilizar aos investidores a informação adequada para que eles possam melhor decidir onde investir, tendo em conta o seu perfil de risco.

Este tema tem ganho especial relevância nos últimos anos e traduz-se, entre outros, na identificação pelos comercializadores de produtos financeiros, nas respectivas fichas de produtos, da maior ou menor complexidade dos mesmo, identificando os riscos de mercado, de capital, de crédito, de liquidez assim como de potenciais conflitos de interesse. No entanto, mais informação “per si”, sendo condição necessária não é seguramente condição suficiente. Importa que os seus destinatários a compreendam e ajustem o seu comportamento em conformidade. Vem este comentário a propósito da importância da literacia financeira e dos comportamentos financeiros para a correcta tomada de decisão dos investidores.

O INFE – International Network of Financial Education da OCDE divulgou o seu relatório para a Europa sobre as tendências em matéria de formação financeira assim como os resultados preliminares de um inquérito à literacia financeira realizado em 2015 abrangendo 20 países europeus. Portugal ficou acima a média ou em linha nas questões relacionadas com os conhecimentos financeiros e quanto ao comportamento financeiro, ficou acima da media Europeia em 9 das 12 questões.

Sendo um bom resultado em termos relativo, há ainda um longo caminho a percorrer pelas diversas entidades que atuam no sector financeiro e pelos próprios investidores para que seja promovido o conhecimento e o investimento consciente.

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